Quem acompanha o blog da Personality já sabe que controle de custos e planejamento orçamentário são decisivos para a rentabilidade das obra, um assunto que exploramos recentemente nos textos sobre controle de custos e planejamento orçamentário publicado aqui no blog.
Mas existe um elemento que conecta esses dois pilares e, ainda assim, vive cercado de equívocos: o capital de giro. Sem ele, até a obra mais bem-orçada trava diante de um simples atraso na medição ou de um ajuste inesperado de preço do aço.
Neste artigo, desmontamos os principais mitos que rondam o tema e mostramos as realidades que todo arquiteto, engenheiro ou controller precisa encarar para manter a liquidez do canteiro.
1. O que (realmente) é capital de giro?
Capital de giro são os recursos necessários para sustentar as operações diárias da empresa, dinheiro em caixa, contas a receber, estoques de materiais, adiantamentos de clientes, entre outros. Ele garante a liquidez entre o momento em que você paga fornecedores e o momento em que recebe dos clientes.
Fórmula simplificada:
- Capital de Giro Próprio = Ativo Circulante – Passivo Circulante
Na construção civil, essa conta merece atenção extra, porque o ciclo financeiro é diferente do comércio ou da indústria: os gastos ocorrem continuamente, enquanto as receitas entram em parcelas (medições) que muitas vezes dependem de laudos técnicos e aprovação do cliente.
2. Mitos versus realidades
Mito | Realidade |
1. “Capital de giro é dinheiro parado na conta.” | É um estoque dinâmico de liquidez. Parte fica em caixa, mas a maior fatia circula em contas a receber e estoques. Gerir bem é manter o equilíbrio, não maximizar saldo bancário. |
2. “Se o cliente paga por medição, não preciso de capital de giro.” | Existe um gap de caixa entre o desembolso (materiais, folha, parceiros) e o recebimento da medição. Quanto maior o prazo de aprovação, maior a necessidade de capital de giro. |
3. “Só preciso me preocupar quando faltar dinheiro.” | A gestão deve ser preventiva. Sem projeções de curto e médio prazo, a empresa corre para buscar crédito caro na última hora. |
4. “Adiantamento de clientes é capital de giro ‘grátis’.” | Adiantamentos reduzem a necessidade, mas não substituem controles. Eles representam obrigações futuras (entrega de obra) e afetam o passivo circulante. |
5. “Financiar capital de giro sempre sai caro.” | Linhas bancárias como Capital de Giro Caixa ou operações com garantias reais apresentam taxas competitivas, sobretudo para empresas com demonstrações financeiras sólidas. |
6. “O RET e o Patrimônio de Afetação resolvem meu caixa.” | O Regime Especial de Tributação (RET) da Lei 10.931/2004 alivia impostos, mas não injeta liquidez. Patrimônio de Afetação protege credores, não financia a obra. |
7. “Existe um valor ideal (fixo) de capital de giro.” | A Necessidade de Capital de Giro (NCG) varia com prazos de pagamento, cronograma da obra, preço dos insumos e velocidade de vendas. É métrica viva, não estática. |
3. Por que esses mitos se perpetuam?
- Visão contábil limitada – Muitos gestores olham apenas o saldo de caixa ou o balanço anual e ignoram o ciclo operacional.
- Complexidade tributária – Regimes como RET, cumulativo/não-cumulativo de PIS/Cofins e retenções de INSS da obra confundem a leitura do fluxo financeiro (tema já tratado no nosso guia de INSS da Obra).
- Reconhecimento de receita – A entrada em vigor do CPC 47 (IFRS 15) exige que as construtoras reconheçam a receita conforme a entrega de performance, o que muda a forma de projetar caixa e pode inflar ou reduzir artificialmente indicadores se mal aplicado.
4. Indicadores práticos para monitorar
Indicador | Cálculo | Interpretação |
NCG (dias) | (Contas a Receber dias + Estoque dias) – Contas a Pagar dias | Quanto tempo a empresa precisa financiar suas operações sem receitas. |
Ciclo de Caixa | NCG (dias) – Prazo Médio de Financiamento Bancário | Se negativo, significa que o crédito bancário cobre a lacuna; se positivo, a empresa usa recursos próprios. |
Índice de Liquidez Corrente | Ativo Circulante ÷ Passivo Circulante | < 1,0 indica risco de descasamento; alvo entre 1,2 e 1,5 para construtoras. |
Ferramentas de ERP, como o Mais Controle, integram cronograma físico-financeiro, contas a pagar/receber e extratos bancários, gerando esses indicadores em tempo real.
5. Boas práticas para financiar o capital de giro
- Fluxo de caixa preditivo – Projete entradas e saídas semanais, considerando prazos de medição e eventual retenção contratual de 5 % a 10 %.
- Desconto de recebíveis (ESC/RDC) – Antecipar duplicatas ou créditos futuros, desde que o custo efetivo seja inferior ao retorno do projeto.
- Linhas de capital de giro atreladas à garantia real (CRE/CCI) – Empréstimos garantidos por imóveis ou recebíveis da obra têm taxas menores.
- Gestão de estoques – Negocie just in time para insumos de alto valor; cada tonelada de aço estocada antes do tempo aumenta a NCG.
- BPO Financeiro – Automatizar conciliações e cobrança reduz o ciclo de conversão de caixa (mito 3). Empresas que terceirizam ganham, em média, 3 dias de liquidez nas contas a receber, segundo estudos de mercado.
6. Estudos de caso resumidos
Situação | Antes | Depois de ajustes |
Construtora A (médio porte) | NCG = 74 dias, caixa próprio | Implantou ERP + BPO; reduziu NCG a 46 dias; precisou de 38 % menos capital de giro. |
Incorporadora B (alto padrão) | Dependência de adiantamentos; atrasos de medição | Implementou fluxo preditivo; contratou crédito do Sistema SBPE para cobrir gap; obra entregue sem paralisações. |
7. Check-list: você está caindo em algum mito?
- Não projeta fluxo de caixa por obra/mês.
- Confia apenas no adiantamento de clientes para pagar fornecedores.
- Mistura recursos de diferentes empreendimentos na mesma conta bancária.
- Não calcula NCG nem ciclo de caixa.
- Abre crédito rotativo apenas quando o caixa entra no vermelho.
Se marcou dois ou mais itens, é hora de rever sua estratégia de capital de giro.
Conclusão
Capital de giro não é sobra de caixa, mas o sangue que mantém a operação viva entre o pagamento da fôrma e o recebimento da medição. Conhecer e derrubar os mitos — dinheiro parado, cliente que “financia tudo”, RET como solução mágica — é o primeiro passo para decisões financeiras mais contundentes.
A Personality Contabilidade, em parceria com o Mais Controle ERP, oferece diagnóstico gratuito de Necessidade de Capital de Giro por obra, incluindo simulação de cenários de financiamento. Entre em contato e descubra quanto capital de giro sua construtora realmente precisa — e quais fontes são mais baratas para financiá-lo.