Quem trabalha com arquitetura, engenharia ou finanças na construção civil conhece bem o ritual: cada obra nasce com um orçamento próprio, minucioso nos volumes de concreto, na mão de obra e na curva de desembolso. Mas, quando se olha para o ano fiscal inteiro, o cenário muda.
É preciso somar dezenas de obras em estágios distintos, despesas da sede, folha de pagamento, leasing de equipamentos, tributos federais, ISS de inúmeros municípios e até o cafezinho do escritório.
Sem um orçamento anual corporativo que consolide tudo isso, a diretoria corre o risco de decidir apenas “olhando para o canteiro” e ignorando pressões silenciosas de caixa, por exemplo, a parcela de IRPJ/CSLL que vence em abril ou o 13.º salário da equipe administrativa.
Este artigo mostra, passo a passo, como estruturar o orçamento da construtora de modo a integrar obras, despesas administrativas e impostos em um único plano financeiro, com base nas melhores práticas já discutidas em posts anteriores sobre controle de custos e planejamento orçamentário publicados no blog da Personality Contabilidade.
1 – Do orçamento de obra ao orçamento corporativo
Foco | Orçamento de obra | Orçamento anual corporativo |
Objetivo | Prever custo e margem de um empreendimento | Garantir liquidez, rentabilidade e compliance da empresa como um todo |
Horizonte | Duração da obra (meses/anos) | Exercício fiscal (12 meses) |
Unidade de medição | Centro de custo = obra | Matriz + todas as obras |
Responsáveis | Engenheiro de planejamento / orçamentista | Controller / diretoria financeira |
A grande diferença é abrangência: o orçamento corporativo contempla todas as linhas do Demonstrativo de Resultado (DRE), inclusive tributos, despesas administrativas, depreciação e receitas financeiras. Ele transforma múltiplos orçamentos de obra em informação gerencial para tomada de decisão estratégica.
2 – Três pilares do orçamento anual
2.1 Obras (custos diretos)
- Materiais e insumos: aço, concreto usinado, revestimentos, mão de obra direta.
- Cronograma físico-financeiro: base para projetar desembolsos e medições de receita futura.
- Método de reconhecimento da receita: desde 2018, a IFRS 15 / CPC 47 exige que as construtoras reconheçam receita conforme o cumprimento de obrigações de desempenho, não apenas pela emissão da nota fiscal. Essa regra muda o fluxo de receitas projetadas no orçamento anual.
2.2 Despesas administrativas (overhead)
Sede, escritórios regionais, TI, jurídico, marketing, seguradoras, frota leve, benefícios de colaboradores, treinamento, etc. Enquanto o custo de uma obra “morre” quando ela acaba, o overhead persiste todo o ano e deve ser rateado para cada centro de resultado.
2.3 Impostos
O regime tributário escolhido (Lucro Real, Presumido ou RET – Regime Especial de Tributação) molda a carga do ano. No RET, a incorporadora paga 4 % sobre a receita recebida a título de IRPJ, CSLL, PIS e Cofins Serviços e Informações do Brasil; se a empresa administra simultaneamente obras no Lucro Real e no RET, seu orçamento precisa discriminar cada filial (CNPJ) para não “misturar” alíquotas e prazos.
3 – Integração dos três blocos
- Plano de contas unificado
Cada obra é um subcentro dentro do plano; despesas administrativas ficam em “general & administrative”; impostos ganham contas sintéticas separadas por regime. - Calendário tributário dentro do fluxo de caixa
Vencimentos de IRPJ e CSLL (trimestral ou mensal), retenções de INSS da Obra, ISS-QN municipal e PIS/Cofins devem aparecer lado a lado com folha e fornecedores. - Ferramenta de apoio
O Mais Controle ERP, integrado ao BPO Financeiro da Personality, permite importar cronogramas de obra, cadastrar rubricas de overhead e parametrizar regimes tributários diferentes na mesma base de dados — o que evita planilhas paralelas e erros de consolidação.
4 – Passo a passo para construir o orçamento anual
Etapa | O que fazer | Dicas práticas |
1. Diagnóstico | Levante saldos de contratos em andamento, despesas de 12 meses anteriores e posição tributária. | Verifique se existe crédito de PIS/Cofins acumulado — ele pode reduzir desembolso no ano-base. |
2. Definição de premissas | Volume de lançamentos de novas obras, inflação de insumos, dissídio coletivo, câmbio, IPCA. | Use relatórios de entidades como CBIC para tendências de preços de materiais. |
3. Projeção de receitas | Aplique CPC 47: receita reconhecida = (percentual de avanço da obra × preço de venda). | Integre medições contratuais para evitar super-otimismo. |
4. Projeção de custos diretos | Derive do cronograma físico (S-curve) e dos contratos de fornecimento. | Trave preços-chave por meio de hedges ou contratos de longo prazo. |
5. Overhead | Orce centro a centro: RH, TI, Facilities, Administração. | Separe despesas variáveis (e.g., bônus) das fixas. |
6. Tributação | Simule carga em cada regime; avalie vantagem do RET por CNPJ. | Lembre que, no RET, o pagamento é mensal e irretratável enquanto durar o empreendimento. |
7. Consolidação e DRE gerencial | Una todos os blocos em um DRE mensal que mostre EBITDA e lucro líquido. | Gere cenários “base”, “estressado” e “otimista”. |
8. Validação | Reúna engenharia, suprimentos, RH e fiscal para criticar premissas. | Use workshop de revisão para pactuar metas de custos. |
9. Aprovação e divulgação | Diretorias técnica, financeira e de controladoria homologam o plano. | Publique versões controladas no ERP; evite arquivos paralelos. |
10. Acompanhamento | Compare realizado vs. orçado (variação “budget × actual”) todo mês. | Implemente gatilhos de revisão se desvio > 5 %. |
5 – Cenários e indicadores-chave
- Margem EBITDA corporativa
- Percentual de overhead sobre faturamento
- Necessidade de Capital de Giro (NCG) em dias (conforme discutido no artigo anterior sobre mitos de capital de giro).
- Tax burden: impostos pagos ÷ receita bruta — monitorar efeito do RET x Lucro Real.
- Cash conversion cycle (dias).
Esses KPIs devem sair automaticamente do ERP; o BPO Financeiro garante conciliação bancária diária e contabilização D+2, eliminando atrasos que distorcem o “realizado”.
6 – Principais erros (e como evitá-los)
Erro | Risco | Antídoto |
Subestimar despesas administrativas | “Furo” de caixa no 13.º salário | Planejar headcount, dissídio e encargos sociais já na largada |
Ignorar diferentes regimes fiscais | Pagamento a maior (ou multa) | Parametrizar cada CNPJ no ERP; simular cenários antes de optar |
Orçar receita na emissão da NF-e | Superavaliação de lucro | Aplicar CPC 47 para reconhecer receita por avanço físico. |
Prever impostos só no DRE | Descumprimento de obrigações acessórias | Inserir guias e vencimentos no cronograma de caixa |
Consolidar dados em planilhas | Versão inexata da verdade | Centralizar no Mais Controle ERP + auditoria do BPO |
7 – Ferramentas que aceleram o processo
- Mais Controle ERP – Integra cronograma, compras, folha e fiscal; gera DRE gerencial e fluxo de caixa preditivo.
- BPO Financeiro da Personality – Assume contas a pagar/receber, conciliações e fechamento contábil; entrega relatórios até D+3.
- Dashboards de indicadores – Painéis em tempo real para a diretoria acompanhar desvios e disparar revisões orçamentárias.
Conclusão
O orçamento anual corporativo é o GPS financeiro da construtora. Quando obras, overhead e tributos conversam numa mesma linguagem, apoiada por processos, tecnologia e governança, a empresa ganha clareza sobre margens, liquidez e capacidade de investimento.
A falta dessa visão integrada pode levar a decisões fragmentadas: cortar custo de concreto sem enxergar que o verdadeiro gargalo está nos impostos a recolher no próximo trimestre ou nos aluguéis da frota administrativa.
A Personality Contabilidade alia know-how contábil, BPO Financeiro e a plataforma Mais Controle ERP para implantar, em poucas semanas, um ciclo orçamentário que transforma números dispersos em estratégia palpável. Quer ver seu orçamento anual pronto — e conectado às obras — antes mesmo do próximo exercício começar? Fale conosco e agende um diagnóstico gratuito.